segunda-feira, 1 de junho de 2009

Jaçanã e Tremembé





















Jaçanã: o bairro e sua história
Em 1870, o bairro era conhecido como Uroguapira, pois se imaginava que houvesse ouro no local. Como não passou de um boato, abreviou-se para Guapira, nome dado pelos indígenas para a região da Cantareira. Em 1º de junho de 1930, o bairro passou a se chamar Jaçanã (uma espécie de ave ribeirinha, também chamada de parrídea, que se caracteriza pelo tom avermelhado do peito).
O bairro Jaçanã tornou-se conhecido e imortalizado não apenas na zona norte, mas em diversos lugares de São Paulo, pela música “Trem das Onze”, de Adoniran Barbosa, na qual o compositor fazia referência ao Trem da Cantareira (ligava o centro da cidade ao reservatório de água Cantareira), principal meio de transporte do bairro, em atividade entre 1893 e 1965. A ferrovia possuía um ramal que passava pelo bairro chegando até Guarulhos.
Na época de 1934, grandes glebas de terra foram loteadas pelos irmãos Mazzei, tornando a área um típico bairro paulistano de classe média.
Em 1949, o Jaçanã inaugurou o primeiro estúdio de cinema de São Paulo: a Companhia Cinematográfica Maristela, primeiro foco cultural do bairro.
Localizado na zona norte da cidade, o distrito do Jaçanã, segundo o Censo 2000, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem uma população de aproximadamente 91.649 habitantes que vivem numa área total de 7,8 Km2, onde 43.702 habitantes são homens e 47.947 são mulheres.






Um exemplar da arquitetura de Ramos de Azevedo no Jaçanã
Projetado e construído por Francisco de Paula Ramos de Azevedo, o Hospital Geriátrico D. Pedro II é um marco na paisagem urbana do bairro.
O Hospital Geriátrico D. Pedro II, localizado no bairro do Jaçanã, é um exemplar de arquitetura hospitalar do início do século XX. Projetado e construído por Francisco de Paula Ramos de Azevedo, é um marco na paisagem urbana da área.
A idéia de implantação de um asilo para mendigos e idosos na cidade remonta a 1874, quando a Câmara Municipal entrou em entendimento com a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Em 4 de julho de 1885, o Asilo começou a funcionar no prédio ocupado até então pela Santa Casa, na rua da Glória, contando com o trabalho das irmãs de São José e um auxílio mensal da Câmara.
Com o tempo, o número de internos aumentou e a instituição ficou pequena. Em 1906, um novo asilo começou a ser construído na chácara do Guapira - como era conhecido o atual bairro do Jaçanã. No terreno, pertencente à irmandade, já funcionava a Colônia dos Lázaros, lá localizada devido à distância do centro da cidade, já que na época a hanseníase provocava um grande medo na população e os doentes viviam isolados.
O novo prédio foi inaugurado em 2 de julho de 1911, contando com a presença do Bispo Diocesano e do Presidente do Estado, entre outras autoridades. A comitiva chegou ao local num trem da Tramway da Cantareira. Nessa ocasião, o asilo contava com 137 internos. Com o passar do tempo, a instituição passou por transformações. Atualmente denominada de Hospital Geriátrico D. Pedro II, ainda é vinculada à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Por sua importância histórica e arquitetônica, encontra-se em processo de tombamento.
Fonte: Departamento do Patrimônio Histórico (DPH)






Jaçanã e Tremembé: bons motivos para não perder o trem das onze
Situado ao pé da Serra da Cantareira, formando a subprefeitura com o vizinho bairro do Tremembé, o Jaçanã tem um clima privilegiado e infra-estrutura da melhor qualidade num território de 64,1 quilômetros quadrados e população de 255 mil habitantes.
Além do medo de perder o trem das onze e da mãe que o esperava, o personagem de Adoniran Barbosa tinha bons motivos para retornar a Jaçanã mais cedo.
Situado ao pé da Serra da Cantareira, formando a subprefeitura com o vizinho bairro do Tremembé, o Jaçanã tem um clima privilegiado e infra-estrutura da melhor qualidade. Num território de 64,1 quilômetros quadrados, e população de 255 mil habitantes, a subprefeitura apresenta uma grande diversidade social, o que não chega, no entanto, a criar contrastes que choquem o observador, devido à grande extensão territorial.
A região conta com áreas urbanas, rurais e, do ponto de vista socioeconômico, seus moradores vão da classe A à E. De maneira geral, porém, predomina a classe média, com rendimento médio mensal dos chefes de família em torno de R$ 1.000,00, contra R$ 1.300,00 do conjunto do município.
Tanto os que lá residem como os visitantes podem optar pelas facilidades dos serviços na área urbana, incluindo todo o tipo de comércio, e as delícias da Serra da Cantareira, com seus bares e condomínios de luxo, dentre os quais o Parque Suíça e Parque Petrópolis. Vida noturna, por sinal, é o que não falta, já que uma série de casas noturnas oferece todo o tipo de música.
A tranqüilidade da serra aliada à excelente infra-estrutura atraiu para o Jaçanã-Tremembé um grande número de ídolos populares. Ali moram, entre outros, Rita Lee, Pena Branca, Amir Sater, César Camargo Mariano. Quando vivos, ali moravam Elis Regina e Ayrton Senna, cuja família até hoje reside por lá. Sem contar a apresentadora Eliana e arcebispo emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, que também escolheram o Jaçanã-Tremembé para morar.
O nível educacional também chama a atenção. Segundo dados oficiais da prefeitura, 25,1% dos chefes de família têm entre 6 e 10 anos de estudo, 24,6% possuem entre 11 e 15 anos, 3,7% ultrapassam os 15 anos de escolaridade. A taxa de analfabetismo, de 5,70%, é até um pouco acima da taxa média do município, de 4,88%. Entretanto, a taxa de evasão escolar do ensino fundamental na rede municipal é de 0,81%, inferior ao restante de São Paulo que chega a 1,13%.
Pesquisas
Um exemplo do cuidado com a educação é a Biblioteca Infanto-Juvenil José Mauro Vasconcelos, no Parque Edu Chaves, que faz limites com Vila Maria e Vila Guilherme. Em confortáveis instalações, onde estão armazenados 33 mil volumes, entre livros didáticos e de literatura, 8 mil freqüentadores ao mês aproveitam para fazer suas pesquisas, a maior parte escolares.
E mesmo durante o recesso escolar a biblioteca continua recebendo leitores. É o caso de Antônio Domingues, 19 anos, aluno do Curso de Tecnologia Automobilística do Senai, que, em plena tarde de sexta-feira, aproveitava para atualizar seus conhecimentos sobre “controle integrado do motor”. “Mesmo de férias continuo estudando. Para termos um bom desempenho, precisamos estar sempre estudando. Ainda mais nessa área automobilística, que sempre tem coisa nova. Temos de estar atualizados”, diz o estudante, morador do Edu Chaves.
A biblioteca é a única do Jaçanã e foi construída em setembro de 91. Além dos livros, possui um organizado arquivo de jornais e revistas para consultas e áreas para acesso a computadores com internet, teatro, saraus, encontro com escritores e narração de histórias.
Na outra ponta da subprefeitura, localizada em morros ocupados irregularmente e que formam os bairros de Jardim Courisco, Serra Pelada, Jardim Fontalis, Jardim Flor de Maio, Jardim Felicidade, entre outras, está a EMEF, Escola Municipal de Ensino Fundamental, Hipólito José da Costa.
Lá estudam 3 mil alunos, divididos entre o ensino fundamental – da primeira à oitava série -, regular e suplência, que corresponde ao supletivo. Ao contrário do que acontece em muitas escolas situadas em áreas de favelas e periferias, a direção da EMEF mantém uma boa relação com a comunidade, que usufrui as instalações do colégio e ajuda a preservá-las.
Ao longo do mês de julho acontece o Programa Recreio nas Férias, com atividades culturais, esportivas e de passeio, mantendo o fornecimento normal das refeições do período letivo, que inclui café da manhã, almoço e lanche para os alunos. No fim de semana, a direção da escola libera o uso da quadra esportiva para os moradores, independentemente de serem estudantes ou não. “São pessoas carentes, mas uma comunidade muito boa de se trabalhar. Não há depredação”, diz a diretora Miriam Carvalho Silva.
A EMEF desenvolve ainda trabalhos de inclusão escolar de alunos com deficiências mentais não graves e ostenta, com orgulho, vitórias esportivas do time de futebol. E prova que educação possibilita ascensão social mesmo dos mais carentes. Pelos menos quatro alunos que por ali passaram chegaram ao ensino superior e agora fazem estágio na escola, três deles em Pedagogia.
Violência em baixa
Embora trabalhe para melhorar as condições de vida dos mais carentes, a exemplo da EMEF, a subprefeitura procura coibir novas invasões, enquanto se ocupa de outros trabalhos de organização da área urbana, como limpeza de ruas, praças e córregos e reurbanização de locais degradados, como embaixo do viaduto Fernão Dias, na Avenida Abílio Pedro Ramos, divisa com Guarulhos, onde o mato alto e a falta de iluminação propiciavam as condições para assaltos constantes. A subprefeitura limpou o mato e instalou iluminação e imediatamente os índices de violência por ali desabaram.
Índices, aliás, que no território de Jaçanã-Tremembé já estão, em média, abaixo do restante da cidade. Os homicídios são a terceira causa de morte, ficando atrás de doenças do coração e doenças cerebrovasculares. Em 2003 foram 110 assassinatos, contra 139 mortes por doenças cerebrovasculares e 221 por problemas cardíacos.
A subprefeitura também age para eliminar os depósitos ilegais de reciclagem, que muitas vezes funcionam como ferros-velhos clandestinos. Neste ano, 19 depósitos foram fechados.
Saindo da zona urbana, e atravessando a Fernão Dias, tem-se acesso à área rural, onde sítios e chácaras mantêm cultivos de hortifrutigranjeiros, como chuchu e hortaliças, introduzidos principalmente por portugueses e japoneses que investiram na terra para seu sustento. Também da Fernão Dias é possível avistar, com toda sua imponência, a Serra da Cantareira com sua reserva de Mata Atlântica e que contém a principal reserva hídrica de São Paulo.
Para facilitar o acesso, a subprefeitura, numa parceria com uma pedreira e uma firma de terraplanagem, está recuperando a estrada Sezefredo Fagundes, que faz a ligação com Mariporã, onde fica o sistema de água da Cantareira e diversos condomínios de alto padrão.
A serra abriga ainda bares e restaurantes que agradam a todas as idades, e o Núcleo do Engordador, onde há uma criação de carpas. Apesar disso, a área de vegetação é bem preservada, graças à preocupação da Polícia Ambiental e Sabesp em resguardar os recursos hídricos.
No distrito convivem tranqüilamente o Presídio Romão Gomes, da Polícia Militar, e o Centro de Convivência e Cultura Cora Coralina, instalado num prédio que mantém as características da década de 20, quando ali funcionava um cinema. Oitenta anos depois, o centro atende mensalmente a cerca de 600 usuários, nas mais diferentes faixas de idade, e promove atividades diversas como sarau poético, exposições, varal de poesias, leituras, teatro, dança, apresentações musicais, exibição de filmes, encontro de grafiteiros, entre outros.
Uma interessante exposição fotográfica que fica por lá até o dia 30 de julho, intitulada “Mãos que transformam o mundo”, do repórter fotográfico Douglas Mansur, enfoca mãos de personalidades, como Sebastião Salgado, o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, o escritor José Saramago, entre outros. Por causa do caráter histórico e arquitetônico do prédio, o Fórum de Cultura do Jaçanã-Tremembé pediu o tombamento do imóvel ao Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), segundo disse a pedagoga e coordenadora do Centro de Convivência, Ieda Januário Varejão, 41.
Força industrial
Do urbano ao rural, da cultura à indústria, Jaçanã-Tremembé abrange todos os públicos. Assim, da mesma forma que é um reduto de artistas, também abriga indústrias de peso, como a fábrica de fechaduras Aliança e a de produtos de limpeza Sobel. A produção industrial é a segunda maior responsável pelo número de empregos na subprefeitura, com 33,5% dos postos de trabalho, ficando pouco atrás do setor de serviços, responsável por 36,8% dos empregos. Em terceiro vem o comércio, com 26,8% da mão-de-obra ativa na subprefeitura segundo dados da prefeitura. Apesar do nível de industrialização, a região não tem grandes problemas ambientais por abrigar, em sua maioria, empresas não poluentes.
João de Fávari, 59, da Sobel, que emprega 230 pessoas, montou a empresa em 1970. Mas foi só a partir de 1994, com o Plano Real trazendo o fim da inflação e o aumento da competitividade que os produtos da Sobel chegaram em larga escala aos consumidores, segundo Fávari. “A partir de então as empresas menores, mas com preço e qualidade, tiveram acesso ao mercado”. Acesso facilitado pela proximidade com as rodovias Presidente Dutra e Fernão Dias, através das quais seus produtos chegam, por exemplo, ao Rio de Janeiro.
Nascido no Jaçanã, Fávari faz questão de participar das atividades de promoção social da comunidade. “Gosto do bairro, nasci aqui, tive oportunidade de ir embora, mas não fui. A gente ajuda por prazer e para a felicidade do Jaçanã”, ressalta.






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