segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Pelos becos da jovem São Paulo


Pelos becos da jovem São Paulo
Becos de São Paulo resistem ao tempo.
Valdir Sanches - 20/12/2009 - 19h49

Andrei Bonamin/Luz
Beco do Pinto, próximo ao Pátio do Colégio, no Centro: um sobreviventeNos primórdios de São Paulo, com frequência alguém estava num beco sem saída. Não era força de expressão. A cidade se expandira sem qualquer planejamento, sobre terreno por si só difícil, acidentado. Caminhos e estradas viravam ruas. Destas partiam vielas que geralmente não ligavam om outras vias. Muitas, morriam subitamente. Tais eram os becos.


Beco do Inferno, da Cachaça, dos Cornos, do Mata Fome, dos Mosquitos, das Sete Voltas, do Barbas, entre inúmeros outros. Havia também os que indicavam origem e destino. Beco que vem do Campo da Forca, a subir pela Misericórdia. Beco que, de Santa Tereza, vai ao Tamanduateí.
Outro era o Beco junto ao portão do coronel Francisco Xavier dos Santos, que finda na ponte do Lorena. Havia um de pequena extensão, mas pomposo. Será que algum morador se referia a ele pelo nome completo? Beco que vai da rua da cadeia velha para o palácio dos ilustríssimos e excelentíssimos governadores.


O Beco das Bexigas "descia direto da Rua de São Bento para a Ponte do Anhangabaú", como se lê na obra "Dinâmica dos Nomes na Cidade de São Paulo, 1554-1897", de Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick, de onde foram extraídos dados para esta matéria. O beco nada tinha ver com o Bairro do Bexiga, hoje Bela Vista, que, naquela época (1726), ainda não existia.


Sumiram – A urbanização da cidade deu fim aos becos. A maior parte sumiu. Outros viraram travessa. O Beco do Inferno tinha apenas um quarteirão, entre duas ruas: a do Comércio, hoje Álvares Penteado. E a do Rosário, que depois seria da Imperatriz - hoje Quinze de Novembro.
Por que Beco do Inferno? O Departamento do Patrimônio Histórico, DPH, da Prefeitura, anota esta explicação, dada por Byron Gaspar: "Um lugar imundo, esburacado, escuro e mal frequentado. Ninguém podia nele transitar sem o necessário cuidado, tamanha era a sujeira que havia em toda a sua extensão".


Em 1865, o nome foi mudado oficialmente para Travessa do Comércio. Ligava duas ruas, realmente estava mais para travessa do que para beco. Hoje, é a rua do Comércio.


Camelôs – O Beco da Cachaça ficava ali bem perto. Era um pequeno trecho da rua do Cotovelo, que a população começou a chamar de rua da Quitanda, seu nome atual. Nesta rua, mulheres ancestrais dos nossos camelôs vendiam miudezas e comida. No trecho do antigo beco, a pedida era a cachaça.


Quem era o Barbas, que dava nome a um beco próximo ao Colégio dos Jesuítas (hoje Pátio do Colégio)? Era um barqueiro que vivia nas imediações da ladeira que descia para o rio Tamanduateí. O rio, naquela época, antes de ser retificado, corria ao lado da hoje rua 25 de Março.
A ladeira era conhecida como Beco do Barbas, mas também do Quartim (dono de uma chácara próxima) e da Barra. Mais tarde, recebeu o nome de Porto Geral de São Bento. Ali atracavam barcos com mercadorias trazidas das fazendas que o Mosteiro de São Bento possuía em São Caetano. Por fim, o antigo beco recebeu o nome que chegou aos nossos dias: Ladeira Porto Geral.


Sobreviventes – O Beco do Pinto é um dos três únicos, na região central, que resistiram ao tempo. Outro é o Beco do Piolim. Nasce no Largo Paissandu e morre nos fundos do prédio dos Correios (que tem frente para o Vale do Anhangabaú). Na década de 1930, Abelardo Pinto, o palhaço Piolim, armava seu circo no largo, na esquina com o beco. Em 1975, dois anos depois de sua morte, o beco recebeu seu nome.


Boulevard – Hoje moram ali famílias, em prédios de apartamentos. Há algum comércio, como um restaurante para moradores de rua, a preços muito baixos. E uma pequena empresa de artigos de silicone. Há anos existe um projeto que pretende transformar o beco em um boulevard, com passagem para o prédio dos Correios. Até hoje, nada foi feito.


Enforcados – O Beco dos Aflitos é outro dos três sobreviventes. Fica na Liberdade, com entrada pela rua dos Estudantes. Leva à pequena Capela dos Aflitos, de 1779. Um quarteirão acima da capela fica a Igreja de Santa Cruz dos Enforcados. Esse quarteirão continha o Cemitério dos Aflitos, onde sepultavam-se os escravos e os condenados à forca.

D. Comérco de 20 de dezembro de 2009

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